Sunday, December 26, 2010

Quando em cima eh embaixo, esquerda eh direita e para frente eh para tras.
When up is down, left is right and forward is backward.


Quando em cima eh embaixo, esquerda eh direita e para frente eh para tras.

Semana passada, parti para mais uma aventura: voar num aviao de acrobacias Yak-52. Chamar o Yak-52 de aviao eh o mesmo que chamar um Lada de carro. Ele nao inspira nenhuma confianca, principalmente voando numa temperatura de -12C. Mas, alem do pensamento positivo, resolvi acreditar no meu mantra: se nao caiu ateh agora, nao vai ser comigo que vai cair.
O Yak-52 eh minusculo. E tem que ser assim para facilitar as manobras. Para uma pessoa do meu tamanho (e de ressaca) significa ficar esmagado entre o chao e o vidrinho da cabine, se esforcando para nao empurrar o manche com a perna. Tarefa simples.
Depois de ser chumbado ao assento por um cinto-de-seguranca sextuplo, vieram as instrucoes: ao atingir a altitude correta, eu vou explicar a manobra, voce confirma que entendeu, eu faco a manobra e pergunto como eh que voce estah se sentindo. Ok? Ok.
Lah fomos nohs. Ganhamos altitude e a diversao comecou.
“A primeira manobra que nohs vamos fazer se chama Cnjfktoort, vamos descer a 45 graus, completar um looping, virar 180 graus sobre o nosso eixo, voar invertido no segundo looping e girar 180 graus sobre o eixo retornando aa posicao original. Ok?”
Sem entender nada, mas disposto a tentar, respondi: Ok.
A partir do “ok” tudo passar a ser relativo. Aas vezes, a Terra estah em cima e o ceu embaixo. Aas vezes, a Terra estah aa esquerda e o ceu aa direita. Aas vezes a Terra eh uma grande parede aa sua frente. Aas vezes voce soh ve ceu para onde quer que olhe. E vice-versa. Tudo isso acompanhado de uma pressao de ateh 3G no pescoco e no estomago (Ressaca, lembra?).
Completada a primeira manobra, a pergunta: “Como voce estah se sentindo?”
“Otimo”, respondi.
Segunda manobra: “Otimo.”
Terceira: “Bem.”
Quarta: “Ok.”
Quinta: “Mais ou menos.”
Sexta: “Acho que eu preciso tomar um cha.”
E nos preparamos para aterrissar… Bem, isso foi o que eu pensei…
Ele fez um rasante na pista e completou mais um looping lateral, a 45 graus do chao, voando invertido, etc. Foi o suficiente para eu ficar literalmente azul.
Aterrissamos e passei as 5 horas seguintes num processo de pura concentracao: inspira, expira, nao vomita. Inspira, expira, nao vomita.
Passado o mau estar e a ressaca, comi uma lasanha e comecei a planejar quando eh que eu vou fazer a proxima estripulia.

Hora de ir para o Brasil.

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Last went I took part in a new adventure: to fly in one of those acrobatic Yak-52 planes. Of course, calling the Yak-52 a plane is the same as calling a Lada a car. It does not look or feel very safe, especially flying at a temperature of -12C. But besides all my positive thinking, I decided to put some faith in probability: if it didn’t crash till now, it won’t crash with me.
The Yak-52 is extremely small. It must be like that for agility reasons. But for someone my height (and hungover), that means being crushed between the seat and the cabin “window”, with an almost impossible task of leaving room between your legs for the control stick. Easy...
After being literally fused to the seat by a sextuple seat belt, there came the instructions: once we reach a certain altitude, I’ll explain the maneuver we’ll be doing, you confirm you understand what we’re doing, I complete the maneuver and ask how you are feeling. Ok? Ok.
And there we went. We gained altitude and the fun began.
“The first maneuver we’re going to do is called Cnehrhhtnsksjd, we gonna go down at a 45 degrees angle, do a full loop, turn 180 degrees on our axis, fly upside down during the second loop and turn 180 degrees on our axis and return to the initial position. Ok?”
Did you understand any of it? Cause I didn’t. But that wouldn’t make any difference, so I just answered: OK.
Once you say “Ok” everything becomes relative. Sometimes Earth is above you and the sky below you. Sometimes Earth is to your left and the sky is to your right. Sometimes Earth is a big wall in front of you, sometimes all you can see is the sky. And vice-versa. All of that followed by a crushing force of up to 3 Gs in your neck and stomach (Did I mention I was hungover?).
Once we completed the first maneuver, he asked: “How are you feeling?”
“Fantastic.” - I answered.
Second maneuver: “Great.”
Third: “Feeling good.”
Fourth: “Ok.”
Fifth: “So so...”
Sixth: “I think I need to sit and drink some tea.”
So we prepared for landing... At least that’s what I thought...
He flew very close to the ground only to complete a last loop, a lateral one, flying at a 45 degrees angle, inverted, etc. I was enough for me to turn blue.
We landed and then I had a 5 hour process of pure concentration: Inhale, exhale, do not throw up. Inhale, exhale, do not throw up.
Once I started feeling better and not hungover, I had a lasagna and started planning my next adventure.

Time to go to Brazil.



The before and after pics...

Wednesday, December 22, 2010

Minha primeira vez.


First Class.
Originally uploaded by Andreas Toscano.
Apesar da quantidade de mulheres na foto e de ter me sentido um pouco inseguro no dia, esse post nao tem nada de sexual. Eh apenas uma breve descricao da minha primeira experiencia como professor. A MGIMO, uma das universidades mais prestigiosas da Russia, me chamou para dar um curso de uma semana sobre propaganda.
O problema (alem de arrumar tempo, claro) eh que eu nao sabia o que os alunos esperavam de mim. Nao sabia se eles tinham interesse pela profissao, se jah cursavam algum curso de marketing, se conheciam algum termo do ramo ou mesmo se estavam estagiando na area. E justo o tema principal das minhas aulas (trabalhar com foco no brief/resolver o problema em questao), quase vai por agua abaixo por causa disso. Afinal, como preparar um curso de uma semana se voce nao sabe com quem estah falando (publico alvo), o que voce pode oferecer de novo para eles (beneficio) e como fazer com que eles se interessem pelo que voce considera importante (estrategia)?
No final das contas, optei por fazer o que eu fiz no paragrafo anterior: criei uma relacao entre a vida real e a propaganda, para que o curso fosse interessante, mas tambem tivesse utilidade pratica para os alunos, independetemente da material que estivessem cursando ou da profissao que tivessem escolhido.
Aparentemente deu resultado. As pesquisas de opiniao disseram que o curso “foi o mais proveitoso de todo o semestre” e “talvez a unica razao para ir aa faculdade naquela semana”. Fiquei feliz e mais confiante para uma proxima empreitada.
Se voce achou que o post estah vangloriando demais as minhas habilidades como professor, nao leve em consideracao: eu escrevi assim de proposito. Eh para a minha mae. Ela precisa acreditar que eu sou realmente aquilo que ela pensa: “Meu filho eh o melhor do mundo".
Se voce nao eh minha mae, pule para o proximo post.

Fui.

Monday, December 20, 2010

A cidade que soh vira aa direita.

Ha algumas semanas, Moscou parou. Nao eh metafora, eufemismo ou hiperbole. Moscou parou. Todas as vias, em todas as direcoes, em todos os cantos. A foto eu tirei de fora do carro, ao lado de um monte gente que conversava e aproveitava a parada para fumar um cigarro. Sim, eles tambem eram motoristas.
Eu demorei 4 horas para chegar em casa. Com navegador. Com a funcao “avoid traffic” ligada. Com sorte. E com muita vontade de ir ao banheiro. Se eu nao tivesse muito auto-controle, teria que fingir que a chuva entrou no carro.
Transito nao eh assunto novo por aqui, mas com tanto tempo disponivel (afinal, a bateria do meu iPhone morreu nos primeiros 15 minutos), eu resolvi pensar nas razoes de tamanho caos. Uma das razoes eu jah falei por aqui: quando acontece um acidente (por mais idiota que seja), os motoristas tem que deixar o carro exatamente na posicao em que o acidente ocorreu. Uma, duas, aas vezes, tres pistas fechadas por horas. Claro, porque o transito para e nem a policia consegue chegar...
Mas passemos para a minha revelacao: em Moscou voce soh pode virar aa direita. Isso reduz suas possibilidades de fugir ou coordenar o transito pela metade. E se uma das ruas fecha (por qualquer motivo), 100% das opcoes estao fechadas. Isso acontece porque Moscou eh uma cidade redonda e sem trevos. Ou seja, se voce estah no lado de dentro dos aneis, voce soh pode virar para a direita, em direcao ao centro, jah que as 9 pistas opostas nao podem parar para voce. Se voce estah do lado de fora, a situacao eh a mesma: soh dah para sair. E qualquer retorno soh pode ser feito virando aa direita, aa direita e aa direita. O que seria muito mais rapido se voce virasse UMA VEZ para a esquerda.
Mas nao sou eu que vou resolver os problemas de uma das maiores cidades do mundo, ne? Vou arrumar um recarregador portatil para o meu iPhone para aguentar as proximas horas nesse transito.

Fui.