Quando eu era adolescente, adorava uma parte da musica Zerovinteum, do Planet Hemp, que dizia assim “Sarajevo eh brincadeira aqui eh o Rio de Janeiro”. Parecia que os bandidos do Rio eram os mais perigosos do mundo e eu adorava isso. Mas o que antes me parecia adequado, hoje parece uma piada de mau gosto. O Rio de Janeiro nao chega nem aos pehs de Sarajevo quando se trata de sofrimento e violencia. Sem falar nas incontaveis invasoes que a cidade sofreu, soh a Guerra da Bosnia matou 10.000 habitantes e deixou mais de 50.000 feridos. Um sitio de mais de 3 anos (o mais longo da historia de Guerras modernas), na cidade inteira (nao apenas nas favelas) e, durante o qual, nao era possivel sequer andar na rua sem levar um tiro dos snipers espalhados pelas janelas dos predios (eles matavam ateh cachorros, para intimidar as pessoas). As cicatrizes da batalha estao espalhadas por todos os cantos e paredes da cidade. Eh dificil ateh imaginar o que seria ficar quatro anos da sua vida trancado para nao morrer.
Bom, agora que eu jah tirei isso do peito, posso falar de outras surpresas de Sarajevo. A primeira, claro, se deve aa minha falta de cultura pois eu deveria saber que esta eh uma cidade Muculmana e nao Catolica. Qual nao foi minha surpresa ao chegar lah e me deparar com diversas Mesquitas e cafes “Turcos”. Mas Sarajevo tambem abriga as outras religioes com igual respeito, razao pela qual a cidade eh chamada de “Jerusalem da Europa”.
A segunda, foi a importancia da cultura (em especial do cinema) na vida da cidade e na preservacao da identidade nacional. Durante o Festival de Sarajevo, notei que a quantidade de filmes nacionais (ou ateh locais) nao condiz com o tamanho da economia do pais. Estah claro que as pessoas e cineastas se mobilizam para fazerem as coisas acontecerem. Existe um significado mais profundo no cinema daqui: ele eh mais do que uma apenas uma maneira de ganhar dinheiro. Por falar em cinema, sugiro dois filmes que e vi no festival: “A Vila Sem Mulheres” e “Las Acacias”.
Eu ainda poderia falar sobre a natureza ao redor de cidade, sobre como as arquiteturas (Sovietica, Austriaca, Hungara, etc.) se misturam harmoniozamente, sobre os monumentos e pontos turisticos, mas isso voce pode ver por conta propria em qualquer guia turistico. A unica dica que eu vou deixar aqui eh comer na “Casa do Despeito”, uma casa que os monarcas Austro-Hungaros tiveram que transportar, tijolo por tijolo, de um lado do rio Miljacka para o outro. Ok, mais uma dica: nao deixe de conhecer Sarajevo.
Fui.
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When I was a teenager, I used to love a Brazilian rock song that said “Sarajevo is a quiet place compared to Rio de Janeiro”. I felt like the criminals in Rio were ruthless and it was cool. But what sounded accurate back then, now sounds like a bad joke. It’s not even concievable to compare Rio de Janeiro and Sarajevo when it comes to violence, opression and hardships. Without even talking about the countless invasions the city suffered thoughout history, the Bosnian War was resposible for the death of 10.000 citizens and some 50.000 wounded. A siege that lasted over 3 years (the longest in modern warfare), over the whole city (not just in the hoodlums), and during which people couldn’t even walk the streets without being shot by the snipers placed in windows all over (they would even shoot stray dogs to scare people). The scars of this battle are scattered all over the city buildings and walls. It’s hard to imagine what people had to endure, locked in their homes, for almost four years in order not to die.
Ok, now that I’ve taken this off my chest, I can talk about the other suprises Sarajevo had in store for me.
The first, of course, was a result of my overall lack of culture because I should have known that this is a Muslim city and not a Catholic one. You should see how surprised I was when I saw all those Mosques and “Turkish” cafes. But Sarajevo welcomes all religions alike. No wonder it’s called the “Jesuralem of Europe”.
The second surprise was the importance of the role played culture (especially by cinema) both in the life of the city and in the preservation of the national identity. During the Sarajevo Film Festival, I noticed that the number of national (or even local) films is extremely high for the country’s economy. It’s obvious that people and moviemakers bend over backwards to make things happen. There’s a deeper meaning for cinemaa here: it is more than just a way to make a buck. Speaking of cinema, I suggest you watch two of the movies I watched in the festival:
“Village Without Women” and “Las Acacias”.
I could talk about the nature that surrounds the city, about how the architechture seemlessly mixes the (Soviet, Austrian, Hungarian, etc.) styles, about the monuments and sights to see, but you can find all that in your Travel Guide. The only thing I’ll suggest is that you eat at the “House of Spite”, a house the Austrian-Hungarian monarchs had to transport, brick by brick, from one side of the Miljacka river to the other. Ok, one last suggestion: go to Sarajevo.
See ya.
Tuesday, September 27, 2011
Monday, September 12, 2011
Bem-vindo ao lago Baikal. Ou 0,0000000000001% dele.
Welcome to lake Baikal. Or to 0,0000000000001% of it.
Em julho, fui (finalmente) conhecer o lago Baikal. Antes de falar do lago, vou falar um pouco de Irkutsk, cidade mais proxima do lago. Bem pouco, porque nao ha nada para se fazer lah. Ateh os moradores que a gente conheceu passeando nos perguntaram “O que voces estao fazendo em Irkutsk? Nao tem nada aqui”. Resumindo, se voce for ver o lago, se hospede perto do lago. De Irkutsk, soh o aeroporto mesmo. Ok? Agora vamos ao que importa.
Desde que eu cheguei na Russia, eu tenho uma lista com coisas que eu quero ver: o Baikal, os Urais, a Trans-siberiana, a Aurora Boreal e Kamchatka. Mas como todos eles ficam longe de Moscou (e em escalas russas, isso pode significar ateh 10 fuso-horarios a mais), eu sempre deixava para depois. Ateh agora. Este ano, a maioria dos estrangeiros que moram aqui resolveu conhecer a Russia. Estamos com varias viagens marcadas e a primeira delas foi para o lago Baikal.
O Baikal para quem nao conhece (ou acha que eh nome de vodka), eh o maior lago do mundo (apesar de, tecnicamente, o Mar Caspio ser maior). Mas quando eu digo maior, nao eh para voce pensar num lago grande. Eh para voce pensar em algo gigante, com G maiusculo e em bold. Ele eh maior do que a Belgica inteira. Soh de agua.
A agua do Baikal eh uma das mais claras do mundo, com visibilidade media de 40 metros. O que nao quer dizer muito porque a profundidade media eh de 740 metros (media!) e tudo que se ve da superficie eh um azul escuro com raios de sol que se perdem numa profundidade de ateh 1500 metros. O lago contem 20% de toda a agua doce de superficie do mundo e, a margem do lago, equivale a 1/3 da costa maritima brasileira.
No inverno, o Baikal muda completamente. Eh como se colocassem um novo estado no pais. Afinal, nessa epoca do ano, as pessoas dirigem sobre o lago e tem ateh uma estrada de ferro funcionando sobre a superficie congelada. A unica coisa que nao muda durante o ano eh a temperatura da agua, que nunca passa dos 10 graus Celsius na superficie (em media eh 4 graus o ano todo). Nadar no Baikal eh uma experiencia unica. Eh o mesmo que pular numa banheira de gelo gigante. Voce pensa que vai morrer e o corpo faz o que pode para voce sair da agua o mais rapido possivel. Uma sensacao que nao condiz em nada com o sol e o calor de 35 graus do lado de fora.
Com numeros tao colossais, eh claro que o passeio de 1 hora e meia de barco nao deu nem uma ideia do que eh o lago. Mesmo assim, valeu cada um dos 5400 segundos.
Fui.
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Last July, I (finally) went to lake Baikal. Before I even talk about the lake, let me briefly talk about Irkutsk. Very, very briefly because there’s absolutely nothing to do there. Even the people who live there seemed shocked to see us walking around. They all asked “What brings you to Irkutsk? There’s nothing to do here.” So, if you are going to see the Baikal, find a hotel next to the lake. The only thing you need to see in Irkutsk is the airport. Ok? Now let’s get down to what matters.
Since I arrived in Russia, there are some things I really want to see: the Baikal, the Urals, the Trans-Siberian, the Aurora Borealis and Kamchatka. But because most of these things are far from Moscow (and in Russian terms that might mean up to 10 time zones), I kept procrastinating. Up until now. This year, the majority of foreigners who live here decided to know Russia. We have many trips planned and the first one was lake Baikal.
For those of you who don’t know (or think it’s a vodka brand), the Baikal is the largest lake in the world (though technically the Caspian Sea is bigger). But when I say largest, you shouldn’t think of a big lake. Instead, you should think of something gigantic, with a capital G and in bold letters. It’s bigger than Belgium. And it’s all water.
The water of the Baikal is one of the clearest in the world, with an average visibility of 40 meters. Though quite impressive, considering the average depth of 740 meters (average!), the visibility doesn’t help you see much except for the sun rays diving into a dark blue liquid with a maximum depth of over 1600 meters. The lake contains 20% of all surface fresh water in the world and its shore equals 1/3 of Brazil’s coastline.
In winter, the Baikal is a different place. It’s not even a lake to be honest. It’s more like a new state of the Russian Federation. People drive over it and there’s even a railroad over the frozen surface. The only thing that never changes is the water temperature. It never goes over 10 degrees Celsius on the surface (the average temperature is 4 degrees Celsius). Swimming in the Baikal is a unique experience. It’s like jumping into a huge bathtub full of ice. You think you will die and your body does what it can to get you out as fast as possible. A feeling that doesn’t seem to match with the hot (35C) sunny day we were having.
With such impressive numbers, it’s obvious that a 1 and half hour long boat ride wasn’t enough to even understand what the Baikal is. But it was worth every second. All 5400 of them.
Till next time.
Desde que eu cheguei na Russia, eu tenho uma lista com coisas que eu quero ver: o Baikal, os Urais, a Trans-siberiana, a Aurora Boreal e Kamchatka. Mas como todos eles ficam longe de Moscou (e em escalas russas, isso pode significar ateh 10 fuso-horarios a mais), eu sempre deixava para depois. Ateh agora. Este ano, a maioria dos estrangeiros que moram aqui resolveu conhecer a Russia. Estamos com varias viagens marcadas e a primeira delas foi para o lago Baikal.
O Baikal para quem nao conhece (ou acha que eh nome de vodka), eh o maior lago do mundo (apesar de, tecnicamente, o Mar Caspio ser maior). Mas quando eu digo maior, nao eh para voce pensar num lago grande. Eh para voce pensar em algo gigante, com G maiusculo e em bold. Ele eh maior do que a Belgica inteira. Soh de agua.
A agua do Baikal eh uma das mais claras do mundo, com visibilidade media de 40 metros. O que nao quer dizer muito porque a profundidade media eh de 740 metros (media!) e tudo que se ve da superficie eh um azul escuro com raios de sol que se perdem numa profundidade de ateh 1500 metros. O lago contem 20% de toda a agua doce de superficie do mundo e, a margem do lago, equivale a 1/3 da costa maritima brasileira.
No inverno, o Baikal muda completamente. Eh como se colocassem um novo estado no pais. Afinal, nessa epoca do ano, as pessoas dirigem sobre o lago e tem ateh uma estrada de ferro funcionando sobre a superficie congelada. A unica coisa que nao muda durante o ano eh a temperatura da agua, que nunca passa dos 10 graus Celsius na superficie (em media eh 4 graus o ano todo). Nadar no Baikal eh uma experiencia unica. Eh o mesmo que pular numa banheira de gelo gigante. Voce pensa que vai morrer e o corpo faz o que pode para voce sair da agua o mais rapido possivel. Uma sensacao que nao condiz em nada com o sol e o calor de 35 graus do lado de fora.
Com numeros tao colossais, eh claro que o passeio de 1 hora e meia de barco nao deu nem uma ideia do que eh o lago. Mesmo assim, valeu cada um dos 5400 segundos.
Fui.
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Last July, I (finally) went to lake Baikal. Before I even talk about the lake, let me briefly talk about Irkutsk. Very, very briefly because there’s absolutely nothing to do there. Even the people who live there seemed shocked to see us walking around. They all asked “What brings you to Irkutsk? There’s nothing to do here.” So, if you are going to see the Baikal, find a hotel next to the lake. The only thing you need to see in Irkutsk is the airport. Ok? Now let’s get down to what matters.
Since I arrived in Russia, there are some things I really want to see: the Baikal, the Urals, the Trans-Siberian, the Aurora Borealis and Kamchatka. But because most of these things are far from Moscow (and in Russian terms that might mean up to 10 time zones), I kept procrastinating. Up until now. This year, the majority of foreigners who live here decided to know Russia. We have many trips planned and the first one was lake Baikal.
For those of you who don’t know (or think it’s a vodka brand), the Baikal is the largest lake in the world (though technically the Caspian Sea is bigger). But when I say largest, you shouldn’t think of a big lake. Instead, you should think of something gigantic, with a capital G and in bold letters. It’s bigger than Belgium. And it’s all water.
The water of the Baikal is one of the clearest in the world, with an average visibility of 40 meters. Though quite impressive, considering the average depth of 740 meters (average!), the visibility doesn’t help you see much except for the sun rays diving into a dark blue liquid with a maximum depth of over 1600 meters. The lake contains 20% of all surface fresh water in the world and its shore equals 1/3 of Brazil’s coastline.
In winter, the Baikal is a different place. It’s not even a lake to be honest. It’s more like a new state of the Russian Federation. People drive over it and there’s even a railroad over the frozen surface. The only thing that never changes is the water temperature. It never goes over 10 degrees Celsius on the surface (the average temperature is 4 degrees Celsius). Swimming in the Baikal is a unique experience. It’s like jumping into a huge bathtub full of ice. You think you will die and your body does what it can to get you out as fast as possible. A feeling that doesn’t seem to match with the hot (35C) sunny day we were having.
With such impressive numbers, it’s obvious that a 1 and half hour long boat ride wasn’t enough to even understand what the Baikal is. But it was worth every second. All 5400 of them.
Till next time.
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