Wednesday, October 16, 2013

Meu caso com a Sandy.
Surviving Sandy.

Toda vez que eu estou em Nova Iorque, me sinto no set de filmagem de algum blockbuster de Hollywood. Não deve haver uma esquina nesta cidade que não tenha aparecido em pelo menos um filme. Mas da última vez que eu estive por lá, além do cenário, acabei vivendo um roteiro de filme.
A razão da viagem era um evento do Google. Tudo estava indo bem: vôo tranquilo, taxi, skyline de Manhattan, etc. No meio da ponte toca meu telefone. Meu chefe, com uma voz preocupada dizendo: "Ei, Andreas, só estou ligando para avisar que o evento foi cancelado por causa do furacão Sandy. Não voe para Nova Iorque." Minha resposta (pasmo) foi: "Mas eu já estou aqui." Depois de um breve silêncio, ouvi um simples "Oh... Ok... Se cuide então." Eu não leio notícias e tendo a crer que países de primeiro mundo sempre exageram na precaução, mas confesso que fiquei curioso para saber mais sobre o Sandy.
Não demorou muito para entender a magnitude do problema. Gente vendendo lanternas nas esquinas, lojas de conveniência sem água para vender, dezenas de caminhões da ConEdison (a Eletropaulo de lá) estacionados no meio da Union Square, prontos para acudir emergências. Mesmo assim, havia um clima de "não vai ser nada" nas ruas por causa de um alarme falso em 2011. Nesse roteiro de filme, não poderiam faltar estrelas. Primeiro, encontrei a Uma Thurman comprando lanternas numa loja de artigos esportivos. Depois, encontrei a Lucy Liu comprando água numa lojinha de esquina. Só faltava o departamento de efeitos especiais entrar em ação. E não demorou muito.
Estava na casa de uma amiga assistindo um filme quando começou a chover. Minha mãe me ligou do Brasil e eu disse que estava tudo bem (porque estava mesmo). Para provar que ela não tinha com o que se preocupar, falei para a gente se falar via Skype. Mal deu tempo de ligar o Skype e acabou a luz. Expliquei a situação pelo telefone para minha mãe, acendemos umas velas e começamos a comer o que tinha na geladeira. Estávamos em 3, grupo que agora nós carinhosamente chamamos de Team Sandy. Até aqui, nada demais. Chuva forte, vento, mas nada fora do comum.
Mas a chuva foi ficando mais forte, o vento foi ficando mais forte. Lá pelas tantas, eu olhei pela janela e percebi que o terreno de obras do outro lado da rua estava virando uma represa. Resolvi descer na rua e dar uma olhada. Ao sair do prédio, percebi o tamanho do problema. A rua estava quase toda alagada e a 10a Avenida tinha virado um rio, com 50 cm de profundidade e correnteza (!). Voltamos para o apê. Fora a água e os trovões não dava para ter muito a dimensão do que estava acontecendo. Fomos dormir.
No dia seguinte, a chuva já tinha parado, mas não havia eletricidade, transporte público ou comércio. A única alternativa era ficar em casa e não acabar com a bateria do celular. Ao pouco começamos a ter notícias do estrago ao redor: casas derrubadas, túneis e estações de metro alagadas, cidades costeiras varridas do mapa (o evento que eu ia era à beira da praia). À noite, saímos para a primeira volta. Vimos Nova Iorque no escuro. 100% escuro. A pouca luz nas ruas vinha dos carros e das lanternas. Team Sandy voltou para casa.
Na manhã do segundo dia, ficamos sabendo que da metade da cidade para o norte havia luz. Hora de comer, recarregar o telefone e ter uma noção do estrago. Como você já deve ter imaginado, nós não fomos os únicos a ter essa idéia. Em cada tomada de cada farmácia, restaurante ou loja haviam, pelo menos, 3 pessoas lutando para carregar o telefone ou o laptop. Comer também não foi fácil. Até os lugares mais mequetrefes estavam lotados. Todo mundo querendo comida normal e uma desculpa para usar a tomada.
Depois de comer, fomos comprar a fantasia para o Halloween. Afinal, quer desculpa melhor para fazer festa do que ter sobrevivido a um furacão?

Fui.

PS - Este post foi escrito no avião, a caminho de NY.

:)


Whenever I'm in New York, I feel like I'm in the set of a major Hollywood blockbuster. I don't think there's a single corner in this city that hasn't been in at least one movie. But last time I was there, I didn't just feel like I was in a movie set: I took part in a real movie plot.
I went there to attend a Google event. Everything was going well: good flight, yellow cab, Manhattan skyline, etc. In the middle of the Brooklyn bridge, my phone rings. It was my boss. He sounded a little worried. "Hey, Andreas, I'm just calling to let you know that the event was cancelled due to hurricane Sandy. Do not fly to New York." To which I replied (shocked): "But I'm already here." After a brief moment of silence, he just said: "Oh... Ok... Be safe, then." I never read the news and I also believe that first world counties tend to exaggerate when it comes to precaution, but I must confess that at that moment I felt like I needed to know more about Sandy.
It didn't take long to understand the magnitude of the problem. There were people selling torches in every corner, shops were running out of bottled water, dozens of ConEdison trucks were already parked in the middle of Union Square, ready for emergencies. But despite all that, people were still kind of joking about it, saying it was going to be another false alarm like in 2011.
As in any movie set, you could also find some stars. First, I met Uma Thurman buying headlamps at a sports shop. Then, I met Lucy Liu buying water at a deli. All we needed now was the special effects team. And it didn't take long for them to show up.
I was at a friend's house when it started to rain. My mom called me from Brazil and I told her everything was fine (it really was). To prove her that she had nothing to worry about, I suggested we spoke via Skype. I barely had time to log in to Skype before the lights went out. I explained the situation to my mom by phone, we lit up some candles e started eating whatever we had on the fridge. We were 3 people (a group we now call Team Sandy). Up to that point, things were under control. Heavy rain, wind, but nothing extraordinary.
The rain kept getting stronger, the wind kept getting stronger. That's when I looked outside and noticed that the construction site across the street was becoming a dam. I decided to go down and take a look. As soon as I walked out of the building, I noticed how bad the situation was. Our street was almost completely flooded and 11th avenue had become a river, half a meter deep and with a strong current pushing south. We went back to the apartment. Despite of all the water and thunder, it was impossible to imagine what kind of damage was being done to the city. So, we went to bed.
Next morning, the rain had stopped, but there was no power, public transport or shops open. The only alternative was to stay home and try not to fully drain the cell phone battery. Little by little we found out how bad the situation was: houses destroyed, tunnels and metro stations completely flooded, coastal cities devastated (the event I was supposed to attend was by the sea). At night, we went out for a first walk. We saw New York in the dark. 100% in the dark. The only light out in the streets came from cars and flashlights. Team Sandy went back home.
On the second morning after the event, we found out that the northern half of Manhattan was OK. Time to go eat, charge phones and check the damage with our own eyes. As you can imagine we were not the only people to have this idea. Around every socket of every pharmacy, restaurant or shop there were at least 3 people fighting for a chance to charge their devices. Eating wasn't easy as well. Even the crappiest places were packed. Every single person wanted to have a normal meal and a shot at an unoccupied socket.
As soon as we finished our meal, we went to a shop to buy our Halloween costumes. After all, is there a better excuse to party than having survived a hurricane?

Cheers.

PS - This post was written on the plane to NY.

1 comment:

Anonymous said...

li de novo agora. Uau!!!
Mamis